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O que é o tempo do brincar

Um dos caminhos possíveis para definir e compreender a infância vem da ampliação do ideário de tempo. Na Grécia Clássica estes conceitos eram bem mais amplos: além de Chrónos, que conhecemos tão bem, Kairós e Aion conceituavam ‘Tempo’ em diferentes perspectivas. Expandir o entendimento das temporalidades humanas para além de Chrónos, pode nos ajudar a adentrar ou, ao menos, respeitar os terrenos dos tempos da Infância.

Kairós, na antiguidade definia tempo num sentido de proporção, de medida e de oportunidade. Já Aión, designava tempo, não no sentido de sucessão, de contagem, de sequenciar. Este tempo diz respeito à intensidade da vida. O tempo de Aion é associado ao tempo da infância, ao tempo do brincar.


Diante da expansão dos conceitos de tempo, podemos entender a vida humana para além da sua cronologia. Surge então uma nova possibilidade, a de que a infância não seria somente uma fase do desenvolvimento humano que levará a uma consequência irrefutável: a vida adulta. Teríamos que dar conta de mais que isso para adentrar o imaginário infantil, as suas profundidades e simbologias que remontam a natureza da criatividade e da essência humana.


Ora, se a vida não é somente uma progressão de fases e eventos, a infância não é somente a fase introdutória, a preparação para a vida adulta. O tempo de Aion sugere que nele está presente uma força, uma conexão cosmogônica com os mistérios do universo. Se olharmos a criança por aí, podemos chegar mais perto da plenitude dos movimentos da infância para sentir suas sutilezas e diferentes densidades das múltiplas camadas linguísticas que residem no tempo da infância, no tempo do brincar.


Por alguma razão, dos gregos o tempo que herdamos dá conta da existência humana numa perspectiva mais restrita: Infância - vida adulta - velhice ou início, apogeu e declínio. E é nesta concepção temporal que muitos conceitos pedagógicos e psicanalíticos são alimentados. Pensar na vida humana por fases e estágios vem construindo teorias de desenvolvimento para inúmeras bases educacionais.


Aion pode trazer redenção a quem busca um olhar sensível na educação. Deleuze chamou Aion de ‘o não tempo’, sabemos que na cosmogonia Grega, Caos inicia a criação do mundo por Gaia, que se expande e cobre tudo que existe, depois disso vem o dia, a noite, o mar, as montanhas antes do surgimento de Cronos. Segundo a mitologia grega, a criação do mundo acontece antes do tempo. Cronos está associado à agricultura. Cronos tirou de seu pai o poder e temia que lhe acontecesse o mesmo. O tempo de Cronos representa essa esmagadora presença que destrói e sucede as gerações, da história, mas não mede os exercícios da alma, os sentimentos, as emoções e experimentações.


Felizmente, os gregos nomearam esses tempos humanos para que possamos nos amparar na busca de uma educação com mais significado.


O respeito aos tempos da infância vai muito além da pontualidade britânica, da linha histórica, da pressa de chegar que antecipa e exagera os conteúdos, da chegada de uma adolescência precoce que é um fato hoje, da promessa de um futuro melhor que desespera o caminhar, da busca hedonista da juventude eterna, do saudosismo, dos tempos líquidos digitais que despertam novos sentidos e adormecem interações reais com o mundo.


Que os ventos nos tragam esses bons tempos dos tempos Aion!

Tempo do Brincar é um projeto pedagógico, realizado por Priscila Maranho  e mail: primaranho@gmail.com

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